Wellington
Balbo – Wellington_plasvipel@terra.com.br
Em um programa de televisão assisti entrevista que
um jurista concedeu. Afirmou o conhecedor da lei que os constantes acidentes
nas estradas brasileiras que causam cerca de 100 vítimas fatais todos os dias,
acarretando um prejuízo de 22 bilhões aos cofres públicos por ano, tem como
agente causador a deseducação do cidadão brasileiro no trânsito. Estou de
acordo, aliás, creio que todos estamos.
E ainda brincando com os
canais da televisão, encontrei no mesmo dia entrevista com dois educadores que
afirmavam a necessidade de se investir substancialmente na educação para o
desenvolvimento econômico de nosso país. Concordo, creio que o leitor amigo
também.
E ainda na televisão, em
outro programa de entrevistas, assisti o ator, autor e diretor Juca de Oliveira
pedir uma educação ética mais rigorosa por parte de pais, educadores e
formadores de opinião.
O jurista se referia a
educação no trânsito, os educadores se referiam a educação provinda dos livros
e o ator discursava sobre uma educação rigorosa nos padrões de moralidade.
Dentro dessas três
entrevistas encaixamos Kardec, o notável pedagogo francês, que no século XIX
mostrava a necessidade de uma educação mais abrangente, que prepara o ser
humano para atuar de forma ética em toda a sociedade. Uma educação poderosa,
que causa uma revolução nos costumes, porque desperta o cidadão para uma visão
abrangente da vida, demonstrando que, suas atitudes ecoam pelo universo. Em O Livro dos Espíritos, no Cap. Lei do
Trabalho, Kardec faz comentário esclarecedor: (...) Há um elemento que não se
costuma considerar, sem o qual a ciência econômica torna-se apenas uma teoria:
é a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda a
educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter,
que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando
se pensa na massa de indivíduos lançados a cada dia na torrente da população,
sem princípios nem freios e entregues aos próprios instintos, devem causar
espanto as conseqüências desastrosas que resultam disso? Quando essa arte for
conhecida e praticada, o homem trará hábitos de ordem e de previdência para si
e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão
atravessar menos angustiado os maus dias inevitáveis. A desordem e a
imprevidência são duas chagas que uma educação bem conduzida pode curar; aí
está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança
de todos (...)
Como prova da atualidade
do comentário de Kardec podemos recorrer aos
livros de história que escrevem em suas páginas afirmando que, muitos
dos preconceitos que nos impedem inclusive de grandes vôos no cenário
econômico, são frutos de um passado de desatenção quanto aos valores da
educação moral. Muitas penitenciárias construídas demonstram que, as noções
básicas de moral e ética ou não foram transmitidas, ou foram deturpadas.
Obviamente que há indivíduos refratários a qualquer tipo de instrução, contudo,
também é verdade que muitos são aqueles que se desvirtuam do caminho do bem e
da verdade porque lhes faltaram noções
elementares de respeito ao próximo.
Se levamos nossos filhos
à escola para que adquiram noções básicas de determinadas matérias, deveríamos
também iniciá-los nas questões concernentes a educação ética e moral.
Muitos dos crimes que
presenciamos hoje na sociedade devem-se a forma permissiva com que lidamos com
alguns deslizes morais. Acobertamos a mentira, a corrupção, pregamos a
irresponsabilidade e depois nos desesperamos com as conseqüências. Grande parte
desses acidentes de trânsito que ceifam vidas e acarretam enormes prejuízos ao
país, são filhos da negligência com que tratamos as questões envolvendo as
bebidas alcoólicas. Há postos de gasolina nas margens das rodovias que
comercializam bebidas alcoólicas. Um trio quase que imbatível para a morte:
venda de bebidas, estradas e direção. O brasileiro, infelizmente se encaixa no
padrão do motorista que bebe e dirige. O que vem a ser isso senão total
deseducação.
Outro caso significativo foi de jovem escritor,
habilidoso com as palavras, tinha facilidades para construção de frases,
contudo, um desastre na distribuição de idéias. Pregava a liberdade, mas de
forma deturpada, dizia que admirava aqueles que cometiam o suicídio porque os
considerava livres, senhores de si mesmos. Em sua opinião o suicídio era um
grito de liberdade, um ato de rebeldia para com uma sociedade injusta. O
lamentável é que esse escritor distribuía seus textos em prol do suicídio pela
internet, o que bem sabemos, pela sua velocidade alcança criaturas em diversos
rincões do mundo em tempo recorde. Imagino o prejuízo que textos desse nível
podem causar quando encontram corações combalidos e mentes dispostas ao
auto-extermínio. Tivesse esse jovem uma educação sedimentada nas bases que
Kardec propõe e jamais utilizaria seu talento em favor de idéias macabras.
Por isso podemos afirmar
que todos os problemas que envolvem nosso mundo têm sua origem na deseducação
das pessoas. Os acidentes, a fome, violência, analfabetismo, injustiças, são
conseqüências de um mundo onde a educação ainda engatinha. Dia desses, vi
estampado em mensagem seguinte frase: “Minha educação depende da sua”.
Lamentavelmente é uma prova cabal de que não somos senhores de nossos atos, ou
seja, se você me trata bem retribuo o tratamento, se me trata mal também
retribuo seus “carinhos”. Frase típica de pessoas mal educadas. Ideal que
funcionasse da seguinte forma: “Minha educação jamais depende da sua”. Sou
senhor de meus atos, e nada do que você faça irá tirar a serenidade com que
lido com as situações, mesmo as mais complexas. Prova de educação e equilíbrio.
Por isso, fundamental que
nos atentemos para a importância de nos educarmos moralmente, de modo que
acidentes, fome, violência, intolerância e tantas barbaridades que grassam no
mundo não encontrem eco em nossa maneira de proceder perante a vida.
Pensemos nisso.
Artigo publicado originalmente na
revista virtual O Consolador, Ano 1, no
36, de 23/12/2007 e reproduzido com autorização do autor
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